Marrakech - Marrocos
Uma cidade de extrema beleza e contraste cultural com profundas raízes espirituais e religiosas.
Ao sobrevoar a cidade de Marrakech, vimos de cima as construções geométricas em meio aos imensos campos de plantação de argan - uma fruta nativa do Marrocos, de onde se extrai o óleo. A árvore centenária produz um dos maiores produtos industriais do país - o óleo de argan - ainda ajuda a preservar as pequenas cooperativas femininas de sua produção. Há também as imensas riquezas naturais tais como a argila, os corantes, as raízes e especiarias típicas e a flor do açafrão.
A cidade milenar recebe o pseudônimo de 'Cidade Vermelha' não apenas por ser toda pintada de tons terracota, mas também por ser extremamente quente no verão. Quando chegamos a temperatura variava entre 45 graus centígrados.
A chegada foi inesperada, um luxuoso táxi nos aguardava com um simpático moço que falava francês, inglês, espanhol e berbere, segurando uma placa com nosso nome. Ele nos levou numa van dourada com ar condicionado extremamente gelado, decorada com tradicionais tapetes feitos à mão. O translado foi organizado por Mohamed, nosso anfitrião.
Mohamed nos esperava na praça Jamaá El-Fna, localizada no centro-sul da Medina onde nasceu Marrakesh. Ao cruzar a extensa praça, se vê exposta toda a dinâmica sócio-cultural da cidade, como se fosse há dois séculos, cenários montados esperando para receber dos curiosos uma gorjeta por suas fotos. Mercadores, tendas de comidas típicas, vendedores de água por copo, muitos músicos tocadores de instrumentos diversos, e o suco de laranja mais delicioso e refrescante espremido na hora. Ao cair da noite, é impossível não sentir como num filme orientalista, os cheiros, as cores, a fumaça, e os sons são marcantes.
Para os que se interessam por direitos dos animais, o panorama não é propício: macacos em guias trabalham o dia todo atraindo turistas curiosos, cobras naja e de outras espécies são mantidas ao som constante do mismar (flauta oriental), e centenas de gatos doentes e famintos abandonados pelas ruelas. Mohamed nos avisa que não é permitido tirar fotos sem pagar. Ele nos guiou rapidamente através da praça, adentro dos caminhos estreitos e labirínticos da Medina em direção a pousada Riad du Sud La Perle.
Ao cruzar Jamaá El Fna, encontramos uma família típica de artistas, músicos e dançarinas, saltimbancos como nos filmes orientais das décadas de 1930 a 1950. Nômades vindos das regiões interioranas do país, eles passam o dia tocando para os transeuntes músicas populares marroquinas, e muitos locais se juntam à cantoria, ou à instrumentação para tocar um dos muitos instrumentos: as karkabas ou crotales (castanholas marroquinas), os derbaques (instrumentos percussivos), e o banjo.
A Riad (casa marroquina que possui um pátio interno) mais parecia um oásis. O lugar possui uma área comum ao ar livre com sofás e almofadas, adornos temáticos nas paredes e imagens do povo berbere. Mohamed fez questão de nos aguardar para um chá de menta fresca depois do banho para nos dar as coordenadas de como interagir com os comerciantes na Medina.
As três principais áreas de Marrakesh - Medina, Hivernage e Gueliz - são cercadas por altas montanhas com gelo no cume, visíveis ao longe, fazendo da cidade um local estratégico entre o litoral e as grande montanhas que cruzam o país. Por isso o alto comércio desde os tempos antigos.
A arte está sempre presente no cotidiano, seja na música, nos mosaicos, na religiosidade, na arquitetura, no tear ou no tingimento, famoso por suas cores exuberantes e pigmentos naturais.
Um dos lugares mais apreciados é o Jardin Majorele localizado fora da Medina ao Norte de Marrakesh - um jardim com uma coleção de plantas exóticas vindas dos 5 continentes. Seus criadores, Pierre Berge e Yves Saint Laurent, que inicialmente mantinham o jardim como propriedade privada, logo abriram suas portas compartilhando a beleza de suas cores e formas. O Museu Berbere localiza-se dentro do Jardin, e convida o visitante a conhecer o passado pré e pós-colonial, através de fotografias e vestimentas antigas dos povos que migravam no maior deserto do mundo, o Saara.
Outro local importante para se conhecer a história colonialista é a Maison de la Photographie que possui um grande acervo, inclusive dos primeiros orientalistas tais como Flandrin, Felix; ou os fotógrafos franceses que se naturalizaram em Tanger tais como Muller e Chicault; e novos fotógrafos locais que aprenderam a arte e traduziram sua cultura berbere - Studio Souissi em Rabat. A experiência de ver as primeiras fotos da praça de Jamaá El-Fna e a evolução da história cultural através de lentes tão sensíveis, é tão intensa quanto vistar o terraço do prédio de onde se vê toda a cidade, com suas antigas torres e mesquitas.
Marrakesh é um pedaço de terra marcada pelas rotas de escambo, música e dança, comidas e ópio, tecidos e essências.